Cuba tem 891 pessoas presas por gritos de liberdade, incluindo menores de idade

26 de Abril 2022 - 14h27
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As manifestações de 11 de julho de 2021 que ocorreram em cerca de 50 cidades em Cuba abalaram o governo comunista da ilha. A mobilização popular foi considerada a maior desde a derrubada do governo de Fulgencio Batista por Fidel Castro, Raúl Castro, Ernesto Che Guevara e seus companheiros, em 1959.

Os protestos dos cubanos aos gritos de “liberdade” foram duramente reprimidos pela polícia e pelo Exército. De acordo com a ONG Prisioners Defenders, de abril do ano passado até março deste ano, 1.027 pessoas foram presas por questões políticas; desse total, 891 durante as manisfestações do ano passado. Na época dos protestos, o governo cubano chegou a prender 1.320 pessoas que teriam ido às ruas.

O julgamento dos manifestantes é lento, e as penas por enfrentar o governo de Miguel Díaz-Canel são altas. Em março deste ano, 128 foram condenados a ficar até 30 anos atrás das grades. Segundo dados do próprio governo de Cuba, há 55 adolescentes com idade entre 16 e 18 anos detidos por participação nos atos de julho.

A Prisioners Defenders denunciou que um grupo de 17 adolescentes, incluindo um de 13 anos, foi condenado a uma pena de 18 anos de prisão pela participação nos protestos. Eles foram acusados de sedição, ou seja, ato de rebeldia contra o poder do Estado e da ordem constitucional.

Ter uma pessoa próxima na prisão traz consequências também para familiares e amigos. Zoila Rodríguez teve a filha, Katia Beirut, presa e condenada a 20 anos. Desde então ela cuida do neto de 9 anos. 

“Todos os dias junto minhas forças para me levantar, porque meu neto precisa de mim. Desde quando sua mãe foi presa, ele me pergunta ‘o que é uma manifestação? Por que é algo ruim?’. Ele também me pergunta se 20 anos é muito tempo”, disse Zoila ao Cubalex.

A detenção é apenas um dos primeiros problemas enfrentados pelos cubanos que se opõem ao governo comunista. As condições dos presídios da ilha e o tratamento dado aos detentos são alvos constantes de denúncias de organizações cubanas e internacionais.

Em entrevista à Record TV, o jornalista cubano Orelvys Cabrera relatou que ficou 33 dias em uma cela pequena com outros dez homens por participar das manifestações de julho. Nesse período, ele perdeu quase 20 quilos por causa da alimentação ruim e não teve contato com a família nem com advogados. Assim como outros presos políticos, Cabrera foi torturado.

Um levantamento feito também pela Prisioners Defenders e divulgado em março deste ano escolheu de forma aleratória 101 presos políticos, sendo dois menores de idade, e todos relataram casos de tortura. Alguns revelaram até 15 tipos de agressão sofridos dentro do cárcere, como privação de sono, de água e de alimentos, confinamento em cela solitária e agressões físicas.

A situação política no país é um dos motivos que fazem com que milhares de cubanos tentem fugir da ilha caribenha, mesmo que isso leve à prisão em caso de captura. O Código Penal de Cuba determina no artigo 247 que quem sair ilegalmente do país é punido com uma pena de seis meses a três anos, punição que pode ser aumentada se a ação envolver um ato de violência ou de intimidação.

Ainda assim, segundo a Alfândega dos Estados Unidos, desde outubro do ano passado até março de 2022, mais de 78 mil cubanos cruzaram a fronteira americana a partir do México.

Sair de Cuba envolve perder quase que completamente o contato com amigos e familiares. A volta para casa envolveria a prisão, e a comunicação depende do raro e instável sinal de internet.

Um cubano que vive em São Paulo relatou ao R7 as dificuldades de manter contato com quem ficou na ilha. Além da saudade, ele lamentou não poder se despedir de parentes que morreram nos últimos anos em que esteve longe da terra natal.

Com informações do R7