Covid-19: para cientistas, infecção continuará a ser uma ameaça por até 2 anos

07 de Abril 2020 - 06h49
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À medida que China, Coreia do Sul e Cingapura veem casos novos de Covid-19 emergirem, em sua quase totalidade importados, cresce o temor de uma segunda onda da pandemia. Cientistas estão convencidos que o vírus continuará a ser uma ameaça global por muito mais tempo, num período que pode chegar a dois anos, segundo algumas previsões. Mas a gravidade de novas ondas em cada país dependerá das medidas de contenção que eles tomarem agora, alertam especialistas.

O Brasil, que está só no início da subida da primeira onda, ainda não consegue fazer testagem em massa, que tem tido êxito global. E as medidas de isolamento social para aqueles que podem ficar em casa, defendidas pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e governadores, enfrentam a resistência de parte da população e do presidente Jair Bolsonaro. Sem isolamento severo e testes, mostram todos os países que baixaram a curva de ascensão da epidemia, é impossível conter o coronavírus.

Uma projeção do grupo "Covid-19 Brasil", que reúne universidades brasileiras e acertou todas as análises até agora, diz que o Brasil tem hoje, na verdade, 82 mil pessoas infectadas e não 12.056 como indica o governo. As novas projeções levam em conta a estrutura etária da população com base nos dados do IBGE.

- O momento não é de discutir se uma segunda onda virá porque isso é certo. A questão é como virá. Muito provavelmente o coronavírus causará ondas nos próximos dois anos. A questão será nossa capacidade de testar o maior número de pessoas, saber quantos são os infectados, isolar os casos - alerta Domingos Alves, do Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP), que trabalha com vários pesquisadores de universidades no Brasil nas projeções do grupo.

Segundo ele, a curva do Brasil está mais íngreme que a dos Estados Unidos e estamos ainda na primeira metade da escalada, cujo pico poderá ser alcançado somente em maio, num cenário otimista e, em novembro, num pessimista.

Modelo asiático não é factível no Brasil

Se China e Cingapura, com novas medidas de isolamento e alto controle social, além de intensa testagem, são vistas como exemplo e observadas com atenção neste momento em que tentam segurar uma nova onda, Alves e outros pesquisadores, como a professora de virologia da UFRJ Clarissa Damaso, pensam que o modelo asiático pode funcionar lá, mas não é factível no Brasil.

- O nível de controle social, com total comando do governo sobre a vida dos cidadãos, a tecnologia e a capacidade de prover hospitais, profissionais e toda uma infraestrutura de contenção desses países está muito acima do que é possível fazer no Brasil. Temos que focar na testagem em massa e no isolamento social, as medidas que nos são possíveis e funcionam - diz Damaso, assessora do Comitê da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a pesquisa com o vírus da varíola, doença que foi um dos piores flagelos da História da Humanidade.