Conheça a cozinheira que só começou a correr aos 39 e ganhou 3 maratonas aos 45 anos

25 de Junho 2023 - 08h23
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A dias de completar 40 anos, a maioria dos atletas profissionais já está aposentada. No Brasileirão, só o goleiro Fábio e o atacante Wellington Paulista têm mais que isso. Mas foi com essa idade que a gaúcha Marlei Willers começou a treinar corrida de rua. Aos 45, antes de completar um ano como maratonista, já tem no currículo três vitórias e um vice, em quatro maratonas.

Títulos não por faixa etária, ou entre as amadoras, mas na elite. Estreou ganhando a Maratona da Fila, em São Paulo, em agosto, repetiu a vitória em Curitiba, em novembro, e, há duas semanas, venceu a Maratona Internacional de Porto Alegre, tida como a mais rápida do país — aos 45 anos, vale reforçar. Na Maratona Internacional de São Paulo, em abril, foi ao pódio com a prata, entre duas etíopes. Desde que começou a correr, nenhuma brasileira foi mais rápida que ela no país.

"Eu ainda não consegui assimilar o que está acontecendo", reconhece ela, que só começou a se considerar profissional quando foi vice da Meia Maratona em Porto Alegre, há um ano. "Foi quando um grupo de pessoas de Dois Irmãos começou a ir atrás de empresários locais para me dar suporte financeiro para que eu fizesse provas mais fortes", conta ela, que tem apoio de cinco patrocinadores locais e da Fila.

Marlei só fez seu primeiro treino de corrida em março de 2018, mas sempre cuidou do corpo. Natural de Pérola D'Oeste (PR), percorria cerca de 4 quilômetros a pé todo dia, quando criança, para chegar à escola. Jogou futsal na juventude, corria na esteira da academia, mas nunca sonhou em ser atleta.

Até que um primo, vendo o seu potencial, uma mulher magra de 1,58m, a inscreveu para prova de participação (que não prioriza o viés competitivo) em Novo Hamburgo, onde ela trabalhava como coordenadora comercial de uma empresa. Marlei correu os 5 km junto de atletas que treinavam há anos e saiu vitoriosa. Também ganhou outras duas provas no interior gaúcho antes de aceitar a sugestão daquele primo e se juntar ao seu grupo de corrida.

Morando em Morro Reuter, uma cidadezinha de 6 mil habitantes no interior gaúcho, viu na corrida uma oportunidade de viajar. "Só queria poder correr para interagir, viajar. Como poucas pessoas praticavam corrida na minha cidade, que é montanhosa, eu tinha vergonha de treinar na rua", lembra.

No primeiro ano treinando, em 2018, largou para 18 provas. Venceu 14, foi vice em duas, terceira em outra, e 11ª na tradicional Volta da Pampulha, em Belo Horizonte (MG), só atrás de atletas de elite. Na época, era inscrita como amadora. "Foi ali que pensei: acho que sou boa nesse negócio mesmo."

Mas trabalhar em escritório e treinar para grandes resultados eram coisas incompatíveis. Pediu demissão e abriu a própria empresa na garagem de casa, a Preta Pastas, que faz e vende comida caseira livre de conservantes e de temperos artificiais. Marlei virou cozinheira, empreendedora e corredora. Naquele ano, 2019, venceu 20 das 26 provas em que largou e só não foi ao pódio na Meia de Santiago, no Chile, e na São Silvestre, onde terminou em 26º.

Pandemia e maratona

Marlei tinha 42 anos quando a pandemia começou. Enquanto muitos desistiram da corrida, ela intensificou os treinos, mesmo passando um ano e meio sem competir. Foi recompensada com um ano de 2022 histórico. Das 14 provas nas quais largou, venceu 12. Quando não ganhou, foi muito bem. Foi segunda na Meia de Porto Alegre e quarta na Volta da Pampulha, que correu somente três semanas depois de ganhar a Maratona de Curitiba.

O que para muitos seria impensável, para Marlei — ou Preta, como é conhecida desde pequena — está virando rotina. Na corrida gaúcha, fez o melhor tempo da carreira 2h40min59s, marca que a deixa em segundo no ranking brasileiro e que é a melhor feita por uma brasileira, em terras nacionais, desde 2018.

Durante este período, só outras três maratonistas fizeram tempos melhores, e sempre no exterior: Valdilene Silva (a Nininha), Andreia Hessel e Mirela Andrade. As três vão ao Mundial de Budapeste, em agosto, pelo ranking. Mirela, porque fez tempos parecidos com os de Marlei, mas em competições continentais, que valem mais para o ranking.

Questionada sobre esses números, Marlei revela que os desconhecia, já que nunca pensou na possibilidade de chegar a uma seleção brasileira. Sequer sabe quais são os critérios de convocação. "Seria uma honra fazer parte de um comitê, representar o Brasil, mas não é algo que eu pensei, sonhei. Sou federada, se eu conseguir uma vaga, com certeza a gente vai, mas não é algo que eu parei para pensar. Minha vida está um furacão", explica.

Ainda sem planos de fazer uma preparação específica para correr uma grande prova no exterior, Marlei vai disputar três maratonas em três meses. Já ganhou em Porto Alegre, vai largar como favorita em Blumenau, em julho, e depois deve ser destaque da segunda edição da maratona da Fila, em São Paulo.

Fonte: Uol/Olhar Olímpico