Como as viagens podem ser tornar mais sustentáveis após a pandemia?

28 de Abril 2021 - 09h55
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Os problemas gerados pelo crescimento do turismo global nos últimos anos eram todos óbvios: cidades superlotadas, degradação ambiental e alta emissão de CO2 das viagens aéreas. Os apelos por uma reinicialização mais sustentável da indústria de viagens após a pandemia do coronavírus estão aumentando.

A Organização Mundial do Turismo das Nações Unidas (OMT) agora clama por uma “recuperação responsável do setor de turismo”, a fim de “equilibrar as necessidades das pessoas, do planeta e da prosperidade”.

O turismo é um dos setores mais afetados pela pandemia Covid-19. A Europa, principal destino turístico do mundo, por exemplo, recebeu 66% menos turistas internacionais no primeiro semestre de 2020 e 97% menos no segundo semestre.

Embora isso represente um índice sem precedentes, os defensores das viagens sustentáveis dizem que a paralisação ocasionada pela crise sanitária é uma oportunidade para a indústria se reconstruir com um foco renovado na responsabilidade social.

Dados os meses de turbulência global causada pela pandemia, seguidos por protestos mundiais contra a discriminação racial e os incêndios na Amazônia e no Pantanal, os defensores das viagens sustentáveis ​​dizem que as empresas focadas em viagens mais significativas ​​serão líderes na recuperação.

Como os líderes e criadores de tendências da indústria do turismo veem o futuro das viagens?

Depois desse período de crise, é preciso adotar uma nova estratégia para o turismo, tanto para recuperar o setor como para torná-lo mais limpo, seguro e sustentável.

Este assunto inspirou a Feira Internacional de Turismo (ITB) anual de Berlim, realizada virtualmente na primeira quinzena de março deste ano, sob o lema “Repensar, Regenerar, Reiniciar - Turismo para um Normal Melhor”.

“A pandemia Covid-19 foi um momento de choque global que levou a um repensar da indústria do turismo, que está tão acostumada ao sucesso”, disse Martin Balas, pesquisador do Centro de Turismo Sustentável (ZENAT) da Universidade Eberswalde para o Desenvolvimento Sustentável, durante o evento na Alemanha.

“Questões como proteção climática e turismo excessivo, que já eram grandes desafios para o turismo antes da Covid-19, agora estão em um foco ainda mais nítido”. Completou Balas.

Viagem sustentável vai além da consciência ecológica

Para muitos, viagem sustentável é sinônimo de iniciativas e movimentos de proteção ambiental, como a pressão, nos últimos anos, de hotéis, resorts e cruzeiros marítimos para banir os plásticos e serem mais eficientes em energia.

Mas a verdadeira sustentabilidade no turismo é muito mais profunda. Também se trata de ajudar a proteger comunidades e culturas nas regiões turísticas subdesenvolvidas que são cada vez mais populares entre os viajantes.

A pandemia ressaltou o quão profundos - e importantes - esses laços podem ser, já que a paralisação do turismo deixou muitas pequenas comunidades que se tornaram dependentes dos visitantes sem renda para sustentar as famílias.

Entre as iniciativas de valor realizadas nas comunidades, podem ser citadas algumas como a construção de poços, escolas e hospitais; a ajuda aos habitantes locais a iniciarem seus próprios negócios; o apoio à proteção animal e outros esforços de conservação ambiental.

Shannon Guihan, diretor de sustentabilidade da Travel Corporation e chefe da Fundação TreadRight, que apoia pessoas e empresas em comunidades, disse que “oferecer viagens com foco sustentável para comunidades distantes e urbanas requer um equilíbrio complexo”.

“O turismo sustentável não é mais uma experiência”, destacou ele. “O sucesso do que o turismo sustentável pode oferecer para proteger o meio ambiente e melhorar o bem-estar da população local foi documentado em centenas de estudos de caso em todo o mundo”. Afirmou.

Pegada de baixo carbono

O número de viagens aéreas e cruzeiros caiu drasticamente no ano passado, enquanto a demanda por passeios de carro, vans, motorhomes e bicicletas aumentou, bem como a quantidade de pessoas que optaram por viagens de férias em locais mais próximos de suas casas.

Isso mostrou o que poderia ser um turismo mais sustentável em relação à emissão de gás carbônico, oriunda da queima de combustíveis fósseis, uma vez que os aviões e navios são grandes responsáveis por emissões de CO2 e outros gases de efeito estufa.

Diante das restrições da pandemia, muitos viajantes também optaram por alternativas mais sustentáveis ​​ao escolher suas acomodações: muitos preferiram casas de férias ou acampamentos à hotéis, por razões de segurança e higiene. Ao fazer isso, eles melhoraram a pegada de carbono de suas férias – intencionalmente ou não – reduzindo o consumo excessivo de água e a produção de resíduos.

Serão necessárias opções mais sustentáveis no futuro

Embora muitos na indústria já tenham implementado programas ambientalmente corretos, com vários níveis de ambição, o turismo ainda contribui com 8% das emissões globais de gases de efeito estufa e deve crescer a uma taxa anual de 4%. Um aspecto positivo da pandemia pode ser o fato de ter ajudado a unir algumas empresas de viagens para fazer mais contra o que, segundo eles, pode ser seu próximo inimigo.

A Booking.com divulgou recentemente os resultados de um relatório de pesquisa global no qual analistas perguntam aos viajantes como eles planejam viajar de forma diferente quando as fronteiras forem reabertas. O relatório descobriu que 53 por cento dos viajantes globais queriam “viajar de forma mais sustentável no futuro, já que o coronavirus abriu seus olhos para o impacto dos humanos no meio ambiente”. Outros 69% dos entrevistados disseram esperar que a indústria de viagens ofereça opções mais sustentáveis.

Reconhecendo que um foco na sustentabilidade é esperado por um número crescente de clientes, muitas empresas usaram seu tempo de inatividade para fazer um balanço de sua pegada ambiental e planejar roteiros para um futuro mais verde.

James Thornton, CEO da Intrepid – uma empresa de viagens de aventura – disse que, em breve, a empresa lançará uma série de iniciativas e parcerias para apoiar uma reconstrução responsável da indústria de viagens. Essas atitudes concentram-se em áreas-chave como defender as emissões zero de carbono até 2030, acabar com o turismo explorador de vida selvagem, capacitar comunidades e estabelecer uma governança e conformidade mais fortes.

“O objetivo dessas iniciativas, que estão sendo desenvolvidas com outros parceiros e organizações importantes em turismo e negócios responsáveis, será fornecer uma maneira fácil para outras empresas de viagens adotarem práticas mais sustentáveis e éticas”, explicou Thornton.

Para a especialista em impacto ambiental da Intrepid, Susanne Etti, “o turismo tem um lugar na primeira fila para os efeitos das mudanças climáticas”, acrescentando que algumas oportunidades de turismo sazonal e ao ar livre, como esqui ou exploração de recifes, foram diminuídas pelo aquecimento do planeta.

Além das empresas, os turistas precisam reservar viagens mais sustentáveis ​​e prestar mais atenção ao meio ambiente durante a viagem, para que a mudança em direção a um turismo responsável possa ter sucesso no futuro. Caso contrário, a oportunidade única de usar a pandemia para tornar as viagens mais sustentáveis ​​e à prova de crises será desperdiçada.