Cientistas descobrem fungo capaz de degradar plástico em 140 dias

19 de Abril 2023 - 08h05
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Pesquisadores da Universidade de Sydney, na Austrália, encontraram espécies de fungos capazes de degradar o polipropileno — material de tampas de garrafas e embalagens, compondo quase um terço do resíduo plástico global, em questão de meses. Os 140 dias, em contraste com as centenas de anos que o material levaria para ser decomposto naturalmente, são recorde para seres vivos deste grupo.

As variedades Aspergillus terreus and Engyodontium album, encontradas no solo, foram capazes de consumir cerca de 25% das amostras de polipropileno em 90 dias, chegando a degradação total do plástico 50 dias depois. A descoberta pode ser um importante passo no campo de tratamentos biológicos de resíduos sólidos.

O engenheiro químico Ali Abbas, parte da equipe responsável pelo estudo, declarou à mídia australiana que “é a mais alta taxa de degradação de que temos conhecimento na literatura científica.” Os valores são recorde para os fungos, mas outros microrganismos já demonstraram um potencial ainda maior. Espécies bacterianas foram capazes de consumir 90% de amostras de PET em apenas 16 horas.

Até hoje, cerca de 400 espécies de microrganismos capazes de degradar plásticos já foram encontrados. Os fungos, em especial, vêm recebendo atenção especial graças a sua versatilidade, degradando diferentes materiais sintéticos com suas enzimas. O microbiologista Dee Carter, também envolvido no estudo, destaca esse potencial dizendo que “estudos recentes sugerem que alguns fungos podem degradar até químicos persistentes como os PFAS, mas o processo é lento e ainda não está bem compreendido.”

Embora a reciclagem de plásticos seja um processo já dominado pela ciência, quando se considera a dificuldade em separar seus diferentes tipos, ele se torna pouco produtivo. Dessa forma, o destino final da maior parte destes materiais é a incineração ou aterros sanitários.

A boa capacidade de degradação dos fungos depende de um pré-tratamento, que envolve a exposição do plástico à luz ultravioleta, calor ou reagentes químicos que simulam condições ambientais ideais para o fungo se fixar no material. O próximo passo para os cientistas é melhorar este processo para que ele saia da bancada do laboratório e possa ser aplicado em larga escala.

Abbas ressalta a importância de uma economia circular — conceito que busca reintroduzir os resíduos na cadeia produtiva. “Precisamos incentivar o desenvolvimento de tecnologias de reciclagem que melhoram a circularidade de plásticos, especialmente aquelas que partem de processos biológicos,” conclui o pesquisador.

Com informações do Canal Tech