China revisa e aumenta em 50% número de mortos em Wuhan, berço da pandemia

17 de Abril 2020 - 07h03
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A cidade chinesa de Wuhan, berço da pandemia de Covid-19, revisou nesta sexta-feira a contabilização oficial de mortos em razão da doença, aumentando-a em 1.290, ou cerca de 50%. A recontagem veio em meio a questionamentos internacionais sobre os dados divulgados pela China e especulações de que poderia tê-los acobertado –  algo que Pequim nega com veemência ter feito.

Com os dados recém-divulgados, o número total de mortos em decorrência da Covid-19 em Wuhan passou de 2.579 para 3.869. Os casos na cidade também foram revistos e aumentados em 325, chegando a 59.333, sugerindo que diversas vítimas fatais foram diagnosticadas com a doença, mas não tiveram suas mortes confirmadas. Com isso, a China hoje registra 83.760 casos da Covid, com 4.636 mortes.

Em um comunicado, o governo local disse que os novos dados são resultado de informações recebidas de fontes múltiplas, incluindo registros de funerárias e prisões – mortes fora dos hospitais, até então, não vinham sendo contabilizadas. Segundo o governo, a superlotação inicial dos hospitais e a escassez de testes no início da pandemia também contribuíram para a necessidade de revisão.

A estatística foi atualizada em meio a especulações internacionais sobre o número de mortos na cidade ser significamente maior do que aquele que vinha sendo anunciado. Fotos de filas em portas de crematórios ajudaram a aumentar os boatos sobre a gravidade da situação. Segundo a revista independente Caixin, um crematório da Wuhan entregou as cinzas de 5 mil pessoas apenas no primeiro mês da pandemia.

Suspeitas de que a China vem omitindo a extensão da pandemia aumentaram nos últimos dias, conforme o número de mortes vem crescendo exponencialmente. Em entrevista ao jornal Financial Times, o presidente francês Emmanuel Macron acusou Pequim de falta de transparência, afirmando que "não podemos ser tão inocentes de acreditar que a China lidou tão melhor com isso". O chanceler britânico, Dominc Raab, foi ainda mais longe, afirmando que os negócios com os chineses não podem voltar ao normal até o governo central esclareça melhor como lidou com a pandemia.

– Vocês realmente acreditam nos números deste país tão vasto chamado China, que eles tem um certo número de casos e um certo número de mortes. Alguém realmente acredita nisso? – disse o presidente americano Donald Trump, em entrevista coletiva na última quarta.

Em resposta, o porta-voz da Chancelaria chinesa, Zhao Lijan, disse que por mais que tenha havido erros na coleta de dados durante os primeiros dias da pandemia, a China tem uma “responsabilidade com a História, com a população e com os mortos” de garantir que os números sejam corretos.

– Funcionários da saúde em alguns hospitais estavam ocupados salvando vidas e houve atraso da comunicação, subnotificação ou notificações erradas, mas nunca houve um acobertamento e nós não permitimos acobertamentos – disse.

O Globo