Cautela e silêncio

30 de Janeiro 2023 - 07h57
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Nunca fui de não me posicionar. Sempre me pautei, entretanto, pela postura de que tomar posição sobre um assunto não é tomar partido, de forma binária, a favor ou contra alguém ou a favor ou contra algo, exceto em casos extremos.

Fui muito cobrado por amigos e colegas por não me posicionar sobre o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Cansei de dizer e de escrever sobre isso e em momento algum me pus a favor ou contra o governo dele. Sempre fiz críticas pontuais, quando via desacertos, e uma ou outra mais dura, quando ocorriam erros. Fui favorável a algumas medidas, entre quais a reforma da previdência (por sinal construída no governo de Michel Temer), como também fui (e continuo sendo) favorável a privatizações de empresas públicas, por sinal uma das promessas não cumpridas por Bolsonaro, que, vamos e venhamos, nunca foi um liberal por critério algum que se queira estabelecer. Formou-se nacionalista e corporativista, como a esmagadora maioria dos militares brasileiros.

Não escrevo e nem me posiciono para juntar seguidores. Se eles aparecerem, bom; caso não surjam, bom também.

Nunca acreditei em discursos políticos moralistas. Eles invariavelmente nos levam, à direita ou à esquerda, a saídas autocráticas. Entretanto, sempre me pus ao lado de ajustes no trato do bem público, caminho para a eficiência e eficácia do serviço prestado pelo Estado. Poucos governos cuidaram disso e temos, nestes trópicos tristes, um serviço público caro e de péssima qualidade, carcomido pela corrupção, ocupado por aspones e por carreiristas da pior espécie, sem contar os chuchadores que não podem ver uma teta pública que caem de boca.

Um dos ex-ministros da educação de Bolsonaro, Abraham Weintraub, fez duras críticas a professores universitários por ganharem salários astronômicos (de até R$ 20 mil) e devolverem pouco, em conhecimento, para os alunos. Palavras do ministro, proferidas em 2019: O governo precisa “atacar a zebra mais gorda”, o salário do professor universitário federal (https://www.poder360.com.br/governo/weintraub-fala-em-atacar-salario-de-professores-de-universidades-federais/).

A fala do ex-ministro revela o desconhecimento sobre a máquina que ele administrava (ou pretendia administrar).

Um professor universitário federal ganha, ao final da carreira, um salário bruto de R$ 18 mil, muito bom para os padrões brasileiros, mas bem abaixo de diversas categorias do serviço público federal e mesmo estadual. Por sinal, o Executivo é quem tem, entre os três poderes, servidores com  remuneração mais baixa (https://anajus.jusbrasil.com.br/noticias/2259299/salario-medio-do-judiciario-e-o-maior-dos-tres-poderes; https://oglobo.globo.com/economia/media-salarial-no-poder-judiciario-tres-vezes-registrada-no-executivo-diz-ipea-25027395; file:///C:/Users/sergi/Downloads/gilberto2,+351564289001%20(1).pdf).

No serviço público e especialmente nas universidades e institutos federais, a farra não é com salários, mas com diárias, passagens e, principalmente, bolsas. Terremoto recente ocorrido nas terras de Poti apontam para a farra (retomarei isso em outro texto). O silêncio e a vergonha têm sido bem significativos, com grupos de apps de mensagens silentes e grande parte da mídia fazendo-se de desentendida, quando o normal era convidar os acusados para falarem sobre o assunto.

A vergonha logo passará, até que venha o próximo terremoto; o silêncio se perpetuará. Logo, logo, os seios fartos e cheios de leite estarão à disposição dos mamíferos de elite. Por ora, leite sai pingado.