'Casamento foi nosso final feliz': mulher ficou viúva 11 dias depois de casar

06 de Dezembro 2023 - 08h21
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A professora Isabela Bezerra, de 25 anos, recebeu a pior notícia que poderia esperar apenas 11 dias depois de seu casamento: ela estava viúva. O marido, o personal trainer Hélio Jacinto, de 33 anos, morreu em um acidente de moto em setembro de 2023. "O casamento foi a celebração de tudo o que a gente já tinha vivido. Foi como um 'grand finale' para a nossa história, um final feliz."

A Universa, a jovem de Umuarama (PR) conta sua história.

'Achei que era só mais um beijinho'

"Conheci o Hélio quando tinha 19 anos, pelo Facebook, naquela aba 'encontrar amigos'. Eu o adicionei porque achei bonito e ele aceitou e me mandou mensagem.

Começamos a conversar e logo marcamos de nos ver. Achei que ia ser só mais um beijinho, mas nossas ideias foram batendo. Demos nosso primeiro beijo e fomos para a casa dele.

Ele logo queria namorar. Falei: 'você está louco? Te conheço há dois dias'. Mas, quatro dias depois, eu já tinha a chave da casa dele e começamos a dormir juntos quase todos os dias.

O Hélio teve outros três relacionamentos e nenhum tinha dado certo, mas aquele era meu primeiro namoro. Ele dizia que queria que desse certo porque eu não poderia sofrer por alguém. Também falava que não queria ser meu mundo, que eu tinha de me amar primeiro.

'E se a gente se casasse?'

Éramos o tipo de casal que não se separava, todos os dias estávamos juntos. Evitávamos até de sair só para ficarmos juntos. Gostávamos de ficar vendo TV no apartamento dele. Na pandemia, quando muitos casais se separavam por causa da proximidade, nossa relação só se fortaleceu.

Eu falei para ele: 'E se a gente se casasse?'. Mas não queria casar por aqui, queria casar longe. E ele propôs que fosse em Urubici (SC), a cidade da nossa primeira viagem.

Começamos o planejamento da cerimônia: ele falava que aquele era meu sonho e ia dar um jeito de torná-lo realidade. Então, juntamos dinheiro, abrimos mão de viagens.

Meu pai faleceu antes, em setembro de 2022, em um acidente de trabalho. O Hélio me ajudou a superar tudo e falava que a vida era algo que a gente não explicava e que a hora de todo mundo um dia ia chegar.

'Eu te amo, se Deus quiser, para sempre'

Nos casamos no dia 12 de setembro de 2023. Foi uma cerimônia emocionante e todo mundo chorou. Quando entrei, só conseguia vê-lo em cima do altar e toda a felicidade e amor que cultivamos em seis anos.

Levamos o fotógrafo que tirou nossa primeira foto, e nosso cardápio foi totalmente inspirado na nossa vida. Voltamos à casa em que fomos na primeira viagem, fizemos o ritual do vinho —escolhemos uma garrafa para abrir ao completar cinco anos de casamento.

A gente viveu o momento mais bonito e pleno, e todo mundo que estava ali falava que era muito gostoso celebrar o amor e ver duas pessoas que se amam assim. Nosso casamento foi mágico.

A celebrante pediu para ele falar, nos votos, o que queria daqui cinco anos. E ele não quis colocar nada. A última frase dos votos dele foi: 'eu te amo, se Deus quiser, para sempre'.

'Minha vida mudou de rota'

No dia 22 de setembro de 2023, o Hélio sofreu um acidente de moto. Ele estava indo trabalhar e não faltavam dois quilômetros para chegar à academia. Um senhor foi fazer o retorno em local proibido e não sinalizou. Pegou na lateral da caminhonete.

A gente nunca saía de casa sem se despedir. Nos seis anos em que ficamos juntos, todos os dias ele saía de casa cedo —mas, antes, me acordava, me dava um beijo e falava 'bom dia, te amo'.

Naquele dia, ele me deu um beijo e disse que me amava antes de sair de casa, do mesmo jeito que fazia todos os dias. Ele estava animado porque alguns alunos desmarcaram e ele ia conseguir chegar mais cedo em casa à noite.

Um amigo nosso foi até a escola em que eu estava trabalhando e disse que o Hélio tinha sofrido um acidente, mas que estava bem. Fiquei preocupada, ansiosa e, quando cheguei ao hospital, me chamaram para conversar e disseram que ele estava no centro cirúrgico.

O Hélio tinha uma fratura no ombro e outra no punho, e teriam de amputar a perna dele. Ele também tinha alguma lesão grave no abdômen, estava com hemorragia. Meu mundo parou porque ele ia perder uma perna, e eu sabia que ele sofreria com isso.

A enfermeira perguntou: 'Você que é a esposa do Hélio? Ele falou que eu só podia entregar a aliança para a Isabela'.

Achei que ele voltaria e que a única coisa que eu teria de superar era a perna amputada. Ele saiu do centro cirúrgico em coma induzido, e ficaria assim por dois dias. Depois, ficaria acordado na UTI para se recuperar.

Visitei o Hélio intubado, e ele estava normal —só com o tubo mesmo. Me despedi e ele faleceu às 2 horas da manhã. Só fiquei sabendo no dia seguinte.

Fomos ao hospital e meu mundo perdeu a cor. Não acreditava que estava acontecendo aquilo. Saí com esperanças no dia anterior, e agora minha vida tinha simplesmente mudado de rota.

'Casamento foi nosso grand finale'

Naquela semana, a gente ia conversar com o engenheiro para ver o projeto da nossa casa. Também tínhamos conversado de ter um filho em 2025 e ele queria comprar um carro. A gente fazia tudo um pelo outro, nos imaginávamos velhinhos.

Nos últimos dois meses, teve gente que se afastou e quem esteve do meu lado o tempo todo. Hoje, estou bem assessorada psicologicamente, e com psiquiatra. Também tenho uma rede de apoio gigante, que me ama e quer meu bem.

Comecei novos esportes, estou me cercando de coisas boas e tentando levar um dia de cada vez. Não queria me deixar cair em tanta tristeza, mas senti meu luto. É difícil desapegar das alianças, então ainda uso a dele no meu cordão.

Nosso casamento, para muita gente, foi o início de uma história. Para mim, foi a celebração de tudo o que a gente já tinha vivido. Foi como um 'grand finale' para a nossa história. Foi um final feliz."

Com informações do Universa - UOL