'A cada dois comentários nas minhas redes, um me chama de drogado', diz global

01 de julho 2020 - 05h55
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Depois de quatro overdoses, um acidente de carro que o deixou em coma, um infarto e outras tantas comorbidades, além de um ano inteiro em reabilitação seguido por algumas recaídas, o ex-atacante e comentarista esportivo Walter Casagrande Jr. comoveu o Brasil ao anunciar, na final da Copa do Mundo da Rússia, em 2018, que pela primeira vez tinha permanecido sóbrio um Mundial inteiro. Para ele, ali, a sobriedade plena fora alcançada. A parte mais difícil da recuperação, porém, ele conta agora.

Em “Travessia” (Globo Livros), escrito com o amigo e jornalista Gilvan Ribeiro, Casagrande detalha o processo de ressocialização do dependente químico. Uma travessia que, no caso dele, teve luta, um namoro midiático com a cantora Baby do Brasil, a reaproximação com amigos roqueiros que também lidaram com seus vícios, como os titãs Paulo Miklos e Nando Reis. Tudo contado, por ele e pelos personagens envolvidos no livro, de peito aberto, como esta conversa por Skype, de seu apartamento em São Paulo.

Por que a ressocialização é ainda mais difícil que a reabilitação?

Enquanto eu estou internado, estou protegido. Não preciso me preocupar se vou ver alguém bebendo, se ficarei eufórico, se verei movimento de droga. Quando você sai, a coisa vira. A escalada para sair do buraco e voltar à sociedade é muito grande.

É uma parte do processo menos abordada em filmes e séries, por exemplo.

Exatamente. O filme do Elton John (“Rocketman”) é fantástico, foi muito bom pra mim. Mas acaba e você não sabe as dificuldades que ele teve depois que saiu da clínica. Todo mundo pensa sempre em contar a parte errada e pula pro final feliz. Não tem final feliz. Eu alcancei minha sobriedade plena na Rússia, mas não é um final feliz, foi um momento feliz. O dependente químico vai ser dependente até o fim da vida, então agora minha responsabilidade é me manter feliz e sóbrio.

O livro aborda suas muitas relações com roqueiros brasileiros. Sente que tiveram uma trajetória parecida?

O meu desenvolvimento como jogador foi ao mesmo tempo que o deles como músico de rock. A maioria tem a mesma idade que eu, a turma de Titãs, Plebe Rude, Ira!, Barão, Inocentes... O mundo bateu na nossa cara de pessoa pública ao mesmo tempo, e nos ligamos naquela década de 1980, quando surgiu o rock brasileiro mesmo e o Casagrande jogador. Hoje, ficamos felizes pra caralho por estarmos bem, trabalhando. Eu presenciei o drama do Nando, do Miklos, do [guitarrista Luis Sérgio] Carlini, do Kiko [Zambianchi], a dificuldade do Nasi, muitos do Barão... E eles, o meu.

Uma ex-namorada conta no livro que você fica entendiado com muita facilidade. Como tem sido na quarentena?

Eu estou sem sair de casa. Só saio pra fazer o “Bem, amigos!” no SporTV e volto logo depois. Acompanho a GloboNews desde que começou a pandemia, depois quando começou essa tragédia política em que nos encontramos. Faço lives toda quinta e sábado, me mantenho atualizado. Preenchi muito bem os meus dias pra não dar tempo de a minha cabeça ficar de saco cheio. Eu não senti tédio, mas tive vontade de fumar, e eu não fumo mais. Se eu entrar no barulho da minha cabeça e fumar, fodeu. Aí ligo a TV, pego um livro e passa batido. Vou sair desta pandemia bem evoluído na questão do tédio, ansiedade e impulsividade.

O Globo

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