
O debate entre os candidatos à Presidência da República, transmitido pela Band na noite de ontem, foi sonolento, insosso, insípido, inodoro. Principalmente quando estavam em cena Simone Tebet e Soraya Thronicke. Havia um pouco mais de dinamismo e de tensão quando o confronto Bolsonaro X Ciro X Lula dava o ar da graça, tornando o enfrentamento foi mais acirrado; às vezes, a contenda descambou para bate-boca, mas ainda assim dentro de limites civilizados.
Eu tinha certa simpatia por Simone Tebet, quando o nome dela começou a ser ventilado como provável candidata do MDB. Logo, porém, minha inclinação pelo nome da senadora pelo Mato Grosso do Sul dissipou-se, quando a percebi envolta no manto do militantismo de gênero, num feminismo idealista e idealizado e, por isso mesmo, artificial. A entrevista dela ao Jornal Nacional, sexta-feira última, e a participação no debate de ontem fizeram-me rever definitivamente minha posição e esquecer que ela é candidata.
Soraya Thronicke é abaixo da crítica, nível vereadora de cidade pequena. É candidata e tem assento nos debates por uma distorção do sistema político brasileiro. Por ora, merece o silêncio misericordioso do eleitorado.
Antes de prosseguir, adianto: nada há de misoginia em minha manifestação. Já votei em mulheres para a Câmara Federal (Fátima Bezerra), para prefeitura (Fátima Bezerra), para o governo do estado ((Wilma Faria), para Presidente da República (Dilma). Homens e mulheres podem ser candidatos a qualquer cargo, desde que tenham competência para o exercício da função. Simone e Soraya não têm.
O candidato do Partido Novo, Felipe D’Ávila, foi bem, mas ficou emaranhado num liberalismo prêt-à-porter, privatista ao extremo e deslocado do mundo real, como apontaria Roberto Schwarz.
O ex-presidente Lula chegou aos estúdios da Band como se fosse um estadista, coisa que não é, apanhou de todo mundo e ficou aturdido, até perceber que estava num debate e reagir – mas era tarde, a peleja estava se encerrando; saiu apequenado, menor do que é de fato.
O presidente Bolsonaro, que luta para renovar o mandato, não foi exatamente bem, mas se saiu melhor (ou menor pior, diriam os críticos) do que o esperado, principalmente porque armou confrontos e nos confrontos ele cresce, ainda mais se os choques partirem para caneladas; entretanto, os erros em série cometidos ao longo da vida pública e a língua solta em momentos cruciais do seu mandato foram seu ponto fraco.
Ciro Gomes foi quem melhor aproveitou o debate, distribuindo pancadas, com precisão cirúrgica e de forma fleumática, em Lula e em Bolsonaro, afagando os outros candidatos e conseguindo apresentar um bom cabedal de ideias; discordo de muitas das ideias econômicas de Ciro, pois cheiram ao nacional-desenvolvimentismo anos 1950-60, mas não é possível fechar os olhos para o fato de que ele pretende fazer uma campanha propositiva, até porque, dada a extrema polarização Bolsonaro-Lula, é a única via que lhe permite ser um candidato eleitoralmente viável.
As regras, apesar dos ajustes feitos desde os dois últimos pleitos (2018 e 2020), permanecem rígidas, engessando o debate e o confronto entre os candidatos. A lei eleitoral, que obriga a participação de quem não representa praticamente nada na disputa, tomam tempo precioso que poderia ser gasto para a inquirição daqueles que efetivamente estão na disputa.
Sou saudosista e prefiro debates como os da eleição presidencial de 1989, quando grandes pleiteantes ao cargo de Presidente da República enfrentavam-se de peito aberto e tinham algo a propor aos eleitores (https://youtu.be/GSS7F2BBXpw) e não uma disputa entre concorrentes sem personalidade, maquiados por assessores de “ideias” e postos no paletó de gesso de debates montados para evitar o debate.