Autonomia intelectual exige conhecimento

04 de Abril 2022 - 15h20
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Por duas vezes, em 2014 e 2018, fui “acusado” por colegas e amigos progressistas (seja lá o que isso queira dizer) de ser de direita ou tolerante com ideias reacionários, porque recusei, no primeiro e no segundo turno da eleição presidencial naqueles dois momentos, votar nos candidatos do PT, Dilma e Haddad. No primeiro turno votei em Marina, nas duas eleições; no segundo turno, em 2014, não estava no Brasil e, portanto, não votei e, em 2018, anulei meu voto.

Não preciso efetivamente justificar, friso, em quem votei, voto ou votarei, afinal o sigilo do voto ainda é um direito. No entanto, sempre abri meu voto sem constrangimento algum e digo, clara e abertamente, que seguirei no caminho do centro, que amigos e colegas de esquerda dizem ser o voto da direita envergonhada. Talvez até seja, não sei ao certo. Confirmo, por ora, que é o voto de quem se recusa a escolher nomes que estão claramente nos polos da geografa política, por mais que tentem, orientados por especialistas, atenuar o que pensam e defendem.

Sou leitor assíduo e voraz desde minha adolescência. Os clássicos sempre foram, para mim, o refúgio mais procurado porque é neles que encontro as respostas mais sagazes e precisas para as dúvidas que me aparecem. Leio jornais, revistas, sites, assisto a noticiários, etc, mas é nos livros que encontro o que busco.  É por meio deles que me vacino contra a manipulação e contra o radicalismo envolto com armadura pretensamente ética.

Há cinco anos, um colega de profissão veio me questionar pelo meu apoio ao impeachment de Dilma. Ora, nunca apoiei o impedimento da ex-presidente Dilma. Fui a um dos movimentos por curiosidade. Minha tese sempre foi a de deixar que o PT resolvesse a crise que criou, ali pelo final da primeira década deste século, quando o presidente da república ainda era Lula, porque, se assim não fosse, ele a transferiria, como o fez junto com seus satélites de esquerda, para o colo dos sucessores da gerentona inventada pelo demiurgo petista.

Muita gente muito boa saiu às ruas para defender o decrépito governo de Dilma. Gente muito boa ficou em casa, insatisfeita com Dilma. Gente muito boa foi às ruas contra o governo de Dilma. Gente muito boa ficou em casa, satisfeita com o governo de Dilma. Havia também os que não foram às ruas por um sem-número de motivos, pois assim se constrói a democracia, no seio da divergência e da dissidência.

Saber conviver com as divergências e as dissidências exige maturidade pessoal e política e pavimenta o caminho para uma democracia verdadeiramente plural.

Melhor do que seguir quem foi pra rua, contra ou a favor de Dilma, era ser rebelde e insatisfeito intelectualmente, estudando e procurando saber, por nós mesmos mas amparado em bons textos, primordialmente os clássicos, sobre o que ocorria e ocorre no Brasil e no mundo. Este era – e ainda é – o melhor caminho a trilhar. O resto é espuma e militância.

Deve, portanto, ser descartada.