Acusado de crimes em ditadura é achado e Berlim aos 72 anos

19 de julho 2020 - 08h25
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Parece um aposentado qualquer. As imagens mostram um homem idoso caminhando tranquilamente pelas ruas do bairro berlinense de Friedrichshain. Mas seu rosto muda completamente quando confrontado pelo jornalista que carrega a câmera. O idoso é o ex-oficial Luis Esteban Kyburg, de 72 anos, alvo de um mandado de prisão internacional emitido pela Argentina.

Kyburg foi o segundo comandante de uma unidade especial da Marinha Argentina que se envolveu no sequestro e assassinato de 152 pessoas durante a chamada "Guerra Suja" (1976-1983) da ditatura militar do país sul-americano.

Ele foi localizado nesta semana por um jornalista do tabloide Bild, aparentemente levando uma vida discreta na capital alemã. Confrontado pelo jornalista, Kyburg respondeu: "Eu espero aqui. Um tribunal na Alemanha, não na Argentina. Eu espero. Inocente. Tranquilo", segundo imagens publicadas na sexta-feira (17/07).

Numa curiosa inversão dos casos envolvendo criminosos nazistas que fugiram para a Argentina após a Segunda Guerra Mundial, Kyburg se mudou para a Alemanha em 2013, após membros de sua antiga unidade serem condenados à prisão em Buenos Aires.

Segundo o Bild, Kyburg tem dupla cidadania: argentina e alemã. O fato de também possuir um passaporte do país europeu tem sido um entrave para que ele seja mandando de volta para a Argentina. A lei alemã não permite que cidadãos do país sejam extraditados.

Em 2013, Kyburg foi incluindo em alertas de procurados pela Interpol. Dois anos depois, segundo o Bild, procuradores argentinos, que suspeitavam da presença do suspeito no país europeu, pediram a sua extradição para a Alemanha. O pedido não foi apreciado por causa da cidadania alemã do suspeito.

Batizada oficialmente como "Processo de Reorganização Nacional", a ditadura militar argentina de 1976 se estendeu até 1983. Foi um dos regimes mais sanguinários instalados na América do Sul durante a Guerra Fria. Estima-se que mais de 30 mil pessoas foram assassinadas no período. Outras violações de direitos humanos incluíram uso da tortura em larga escala, estupros e até mesmo o sequestro sistemático de crianças.

Luis Esteban Kyburg - Reprodução - Reprodução

Com informações de UOL