ACM Neto mantém neutralidade entre Lula e Bolsonaro e vive encruzilhada na Bahia

07 de Outubro 2022 - 11h09
Créditos:

O candidato do União Brasil ao governo da Bahia, ACM Neto, que disputará o segundo turno das eleições na Bahia contra o ex-secretário da Educação Jerônimo Rodrigues (PT), decidiu se manter distante da polarização nacional entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) e não vai declarar apoio para a disputa ao Palácio do Planalto. Para analistas ouvidos pelo Estadão, o ex-prefeito de Salvador pode até perder votos se declarar apoio a Bolsonaro.

Na disputa pelo governo do Estado, ACM Neto, que figurava como favorito nas pesquisas, obteve 40,88% dos votos válidos e Jerônimo, apoiado por Lula, seu principal cabo eleitoral, surpreendeu e ficou com 49,45%, faltando pouco para a vitória em primeiro turno. O resultado foi bem diferente das pesquisas divulgadas na véspera por institutos como Ipec e Datafolha, que mostravam ACM Neto com 51% dos votos válidos.

O ex-ministro da Cidadania de Jair Bolsonaro, João Roma declarou apoio ao ex-prefeito. Roma, que foi aliado de ACM Neto, mas hoje é seu desafeto, ficou em terceiro lugar nas urnas, com pouco mais de 738 mil votos ou 9,08% do eleitorado.

Em uma live feita pelo Instagram na terça-feira, 4, o ex-ministro justificou que o "principal adversário na Bahia e no Brasil é o PT". Porém, "para ganhar os eleitores bolsonaristas", na visão de analistas, o ex-prefeito de Salvador precisaria apoiar Bolsonaro.

Esse apoio, porém, pode trazer mais prejuízos do que benefícios nas urnas, uma vez que o associaria ao presidente e poderia. No primeiro turno da eleição presidencial, a diferença entre as votações de Lula e Bolsonaro na Bahia foi maior que a média nacional. O petista foi votado por 69,6% dos eleitores do Estado, enquanto o candidato à reeleição teve 24,3% dos votos. Em todo o País, o placar ficou 48,43% para Lula, ante 43,2% para Bolsonaro.

"Ele não podia apoiar Bolsonaro (no primeiro turno), se não, teria menos votos. Seria um suicídio", afirmou o cientista político e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Jorge Almeida. A mesma desvantagem ocorreria em uma associação a Roma. Para Almeida, seria "o beijo na serpente". "Vai ficar clara a identificação com Bolsonaro", disse.

"ACM Neto não vai procurar Bolsonaro, porque Lula teve quase 70% dos votos na Bahia. Ninguém pede voto contra Lula na Bahia. Não apoiar Bolsonaro foi pura estratégia política", afirmou o ex-deputado federal Lúcio Vieira Lima (MDB), condenado por lavagem de dinheiro pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

O ex-prefeito de Salvador, portanto, continua "neutro" e não quer se associar à polarização da eleição presidencial, mesmo após Bolsonaro demonstrar interesse em uma aproximação entre os dois. O presidente afirmou se colocar "à disposição" de ACM Neto, em coletiva realizada nesta semana.

Para o cientista político e professor da UFBA Cloves Oliveira, membro do conselho consultivo da Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais (Abrapel), colocar-se "em cima do muro" pode ser sua única saída para ACM Neto.

"O partido dele não tem (candidato a) presidente para validar e mobilizar votos em favor, numa escala regional. Então, ele tem que se articular numa função independente, porque Lula goza de enorme prestígio na Bahia, capaz de conseguir 70% dos votos", disse. A candidata do União Brasil à Presidência foi a senadora Soraya Thronicke, que recebeu 600.955 votos.

João Roma vê essa neutralidade como "o grande erro" de ACM Neto nessas eleições. "Não definir uma visão para o Brasil faz ele perder força, porque as pessoas buscam um líder que aponte caminhos. A eleição geral está muito mais forte e ele tentou negar e fugir disso desde o princípio, amedrontado com o cenário as pesquisas", afirmou ao Estadão.

"Passei pelos governos de Dilma (Rousseff), (Michel) Temer e Bolsonaro e Salvador nunca teve prejuízo. Se eu tiver oportunidade de ser governador da Bahia, estarei pronto para governar com quem o Brasil escolher. O baiano quer ver o governador da Bahia construindo pontes, dialogando com o governo federal. Essa linha que vamos apresentar aos baianos, pois é a linha mais coerente", disse ACM Neto em entrevista a uma rádio do município de Vitória da Conquista, na quarta-feira, 5.

Com informações do Estadão Conteúdo