A nossa amnésia

30 de Dezembro 2022 - 21h08
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A última live do presidente Jair Bolsonaro foi uma das mais deprimentes de todas, com discurso vazio entrecortado por sentimentalismo barato. Uma coisa ficou muito clara: ele disse que desistiu de tudo. Creio que Bolsonaro só quer sobreviver; parte dos seus seguidores, porém, segue fiel ao caminho da ruptura institucional e será esmagada ou viverá da caridade dos seus opositores (ou seria inimigos).

Ainda há quem aguarde, nos acampamentos milenaristas, um milagre messiânico (perdoem-me o trocadilho). O fim do mandato do presidente Bolsonaro, entretanto, está sendo triste e deprimente e demonstra claramente que ele não esteve à altura das circunstâncias.

O jornalista e escritor Ivan Lessa, filho do também escritor Orígenes Lessa e uma espécie de ovelha negra da crônica brasileira, dizia que os brasileiros esquecem a cada 15 anos o que aconteceu nos últimos 15 anos. É certamente o mais conciso e espirituoso comentário sobre a desmemória tupiniquim; a máxima de Lessa não se aplica a mim.

Por isso mesmo, sem virar às costas para o angustiante e deprimente fim de mandato de Bolsonaro, líder que esteve sempre muito aquém do contexto que vivenciou, lembro que o Partido dos Trabalhadores (PT) o cevou antes e durante o mandato.

Como nunca estive interessado em ganhar campeonato de popularidade, afirmo e reafirmo que o PT não quis de forma alguma o impeachment Jair Bolsonaro, por considerá-lo o adversário ideal na eleição presidencial, porquanto as pesquisas de intenção de voto indicarem, desde o início, que Lula seria favorito para vencer a eleição em uma disputa direta contra Bolsonaro (https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2021/10/08/lula-a-atos-impeachment-bolsonaro.htm). Assim, o PT é sócio no aviltante e desonroso espetáculo protagonizado por bolsonaristas, vá lá, desajuizados que estão na frente de quartéis, bem como nas arruaças ocorridas em Brasília e nas ameaças de atentados para o dia da posse de Lula.

A visão utilitarista de democracia do PT aliada à visão financista que o Centrão tem do regime democrático andam de mãos dadas e geraram a conveniência de manter Bolsonaro na Presidência da República e, a partir daí, soltar Lula e abrir as comportas para que os vagalhões de insatisfação da classe política pudessem varrer os esforços para combater o apodrecido sistema político que faz dos acertos políticos ilegítimos o caminho pavimentado para continuar assaltando os cofres públicos.

Em tempo: Ivan Lessa chamava o Brasil de Bananão. Ele estava certo.