Por Sérgio Trindade
Acompanho as eleições presidenciais nos Estados Unidos por ser professor, por escrever periodicamente em periódicos e por estudar política.
Tirando isso, o meu interesse é zero. Não tenho candidatos preferidos, apesar de já ter tido simpatias em eleições anteriores: Clinton e Obama, por exemplo.
A imprensa brasileira sai fragorosamente derrotada, porque se recusou a cobrir a eleição norte-americana. Ela estava só torcendo contra Donald Trump e, como todo torcedor, distorceu o que ocorria. Fez militância, e não reportagem.
Vi, de madrugada, um analista na NBC News explicar o desempenho abaixo do esperado de Kamala Harris entre latinos: “A campanha de Trump tratou latinos como trabalhadores. A de Harris, como grupo identitário”.
Um dia a parte sã da esquerda e a parte a ela de certa forma ligada acordarão e enxergarão o mal que o identitarismo causa à sociedade.
Trump está virtualmente eleito (começo a escrever por volta das 4h da matina). Só um desastre cataclísmico o impedirá de ser alçado à Casa Branca. Se não estou enganado, é o primeiro presidente eleito com o interregno de 4 anos entre um mandato e outro.
Eleição é isso. Quem melhor interpreta os anseios do povo, ganha. Por isso, não é de bom alvitre ser contra o povo, mesmo que interpretemos o resultado como absurdo. Xingar a opção do eleitor não muda o resultado da eleição e, sejamos sensatos, cria mal-estar e, no futuro, mais votos contrários.
Há uma série de fatores que explicam a vitória de Trump: exaustão da agenda progressista, questão da imigração, a economia, o identitarismo exacerbado, etc.
Amado ou odiado, Donald Trump é uma das figuras políticas mais resilientes (para usar expressão em moda) da história norte-americana e, nas últimas décadas, a mais impressionante.
Independentemente do que pensem dele, é inegável que Trump é talvez o indivíduo mais perseguido dos nossos tempos. Desde que anunciou sua candidatura em 2016, enfrentou uma campanha de difamação sem precedentes, houve uma perseguição policial, fabricando uma conspiração russa e espionando sua campanha. O estratagema foi utilizado para tentar derrubá-lo.
Em 2020, quando candidato à reeleição, foi alvo de campanha feroz e manipulada. Depois de sair da Casa Branca, sofreu pesado cerco judicial, com acusações e condenações em série. Aí, quando muitos achavam que estava politicamente morto e sepultado, reaparece vigorosamente, vencendo as primárias de seu partido por ampla margem e tornando-se candidato à Presidência da República.
Durante a campanha sobreviveu a um atentado, quando foi alvejado, de raspão, numa das orelhas e enfrentou forte oposição dos veículos de comunicação, de amplos setores acadêmicos e da classe artística, e ainda assim venceu, demonstrando ser um político sagaz e um comunicador extremamente eficaz.
Empreendedor de sucesso, Trump não fez a vida no campo político, como grande parte dos que a ele se opõe nesse campo – e mesmo como muitos de seus aliados). E como como a maioria dos políticos brasileiros, sanguessugas do Estado.
Por falar em Brasil, o nosso presidente aparentemente fez campanha contra o futuro presidente dos EUA. Pior, chamou-o de nazista e fascista, conforme matéria da Folha de São Paulo (https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2024/11/lula-diz-torcer-por-kamala-e-critica-trump-as-vesperas-de-eleicao-nos-eua.shtml), da revista Veja (https://veja.abril.com.br/coluna/radar/na-torcida-por-kamala-lula-critica-trump-e-cita-nazismo-com-outra-cara) e do site 247 (https://www.brasil247.com/mundo/lula-critica-trump-e-alerta-para-ressurgimento-do-nazismo-com-outra-cara).
Não custa lembrar: fez campanha na Argentina também e perdeu.
Em hora de eleição em outro país, se tudo estiver ocorrendo dentro da normalidade o silêncio é o melhor caminho. Lula sabe disso. Caso não saiba, o pessoal do Instituto Rio Branco deveria dizer ao presidente.