Porteiro demitido após deixar guarita pra fazer socorro sofre por emprego

12 de Março 2022 - 13h53
Créditos:


Há 38 dias, Juliano Amaro da Silva Paula, 44, lida com as consequências de ter sido herói para uma família de Marília, no interior de São Paulo. Desempregado, ele conta não se arrepender do momento em que deixou a guarita do prédio em que trabalhava para socorrer um homem, de 41 anos, vítima de um capotamento na frente do Edifício Spot, no bairro Esmeralda, onde trabalhava. O impulso de ajudar foi atendido em poucos segundos, mas o profissional acabou demitido e agora, ainda sem recolocação, percebe as contas acumularem.

Juliano estava jantando na guarita no dia 1º de fevereiro quando, por volta das 23h30, ouviu gritos de crianças e, em seguida, uma pancada muito forte. Ele olhou para a janela de onde estava e viu um carro capotando, passando por cima de outro que estava parado no cruzamento. "Quando eu ouvi as crianças gritarem, saí de imediato. Eu tenho três filhos então foi uma coisa automática", conta. O porteiro é pai de uma menina de 3 anos, um menino de 5 anos e outro de 13.

Ele trabalhava há nove meses no prédio. Com curso de primeiros socorros, Juliano conta que não hesitou em ajudar as vítimas do acidente. 

Ao chegar no local do acidente, Juliano encontrou o primeiro carro com as crianças conscientes e em bom estado de saúde. Ele então decidiu ver o outro veículo que, segundo ele, havia capotado três vezes.

"Eu entrei no carro e não vi ninguém. Olhei para os lados, para ver se a pessoa tinha sido lançada fora, mas ele não estava lá. Então dei a volta, quebrei o vidro de trás, entrei por trás do carro e achei a vítima, um homem de 41 anos", relata. "Ele estava em uma posição muito ruim, sobre o próprio pescoço. Se demorasse o socorro, ele seria prejudicado. Então, como sou socorrista, eu coloquei ele em uma posição melhor para não causar danos a possíveis fraturas na coluna. Ele estava desacordado, sangrando muito e aspirando esse sangue.", disse.

Juliano ainda revelou que realizou manobras para despertar a vítima do capotamento e que, durante o procedimento, conseguiu ajuda de outro pedestre, que telefonou para o SAMU. Enquanto aguardavam a ambulância, o homem despertou. 
"Coloquei ele na maca, ele se encaminhou para o hospital e eu subi para o prédio para me lavar. A todo tempo eu olhava a portaria para ver se tinha algum movimento de morador, mas naquela hora não havia ninguém", diz. Juliano ainda diz que os moradores e funcionários possuem um cartão que, ao ser encostado em um aparelho, libera entrada e saída de pessoas.

No dia seguinte, no entanto, a notícia chegou até o Grupo IF3, responsável pela segurança do edifício. Segundo Juliano, a empresa entendeu que ele havia descumprido procedimentos internos ao socorrer a vítima do capotamento, já que ele não poderia deixar a guarita.

A empresa deu a Juliano duas alternativas: pedir a demissão ou ser demitido por justa causa. "Eu falei: 'eu vou embora por ter salvado uma pessoa? Eu fiz um juramento de que se eu não realizar socorro, eu estou cometendo um crime'", relembra. 

"Eu passei mal. Fiquei constrangido, mas eles não mudaram de ideia." Desde então, Juliano tenta procurar um emprego que possa atender às necessidades dele e da família. 
Segundo ele, a mulher, que é funcionária pública e trabalha na prefeitura de Marília, não ganha o bastante para cobrir todas as despesas mensais. Além disso, o filho dele de 5 anos tem autismo e precisa de um medicamento controlado de alto custo para ter qualidade de vida.

Com informações de UOL