Lula admite repetir loteamento político de estatais que gerou o petrolão

14 de Setembro 2022 - 10h57
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Lula foi sabatinado pela CNN nesta semana. Na conversa com Willian Waack, o petista foi confrontado com uma de suas marcas mais conhecidas enquanto presidente da República: o loteamento político de estatais por partidos que integravam sua base do governo.

A pergunta surgiu na esteira do escândalo de corrupção desmontado pela Lava-Jato, que drenou bilhões de reais da Petrobras. O apresentador atestou que “houve loteamento político na Petrobras” e questinou: “O senhor não sabia disso?”

Foi mera elegância retórica, já que é fato que Lula negociou pessoalmente as indicações de diretores da Petrobras com figuras como José Janene e Pedro Corrêa, do PP, e com caciques do velho PMDB e, claro, do PT. As diretorias da estatal eram comandadas por burocratas que cobravam propinas de empreiteiras e depois distribuíam o dinheiro sujo aos partidos e seus políticos.

Na Diretoria de Serviços, quem operava a corrupção era Renato Duque, que só prestava contas a João Vaccari Neto e ao PT. O dinheiro sujo na diretoria de Abastecimento era gerido por Paulo Roberto Costa, que administrava o caixa da corrupção com ajuda do doleiro Alberto Youssef, sempre distribuindo propinas a políticos do PP.

Com o tempo, durante os governos petistas, o PMDB entrou numa briga no Congresso contra o Planalto, dificultando votações para ter também seu espaço na diretoria do PP. Os caciques do partido levavam propina da Diretoria Internacional da petroleira e acabara, com o movimento, também apadrinhando Paulo Roberto.

As propinas eram cobras na ordem de 1%  a 3% e, como revelou Youssef, sempre que havia conflito entre os partidos nessa partilha, o assunto era levado ao Planalto para resolução das brigas entre os corruptos. O negócio era tão eficiente, que o doleiro tinha um serviço de entrega de propina em domicílio, o famoso money delivery.

Na conversa na CNN, Lula tentou esquivar-se da responsabilidade pelas nomeações transferindo as responsabilidade para o Conselho da Petrobras, como se os integrantes do dito conselho não fossem também indicados pelo presidente da República.

Admitindo-se que Lula nunca sequer suspeitou do que acontecia na Petrobras, o apresentador questionou o presidente sobre um fato consumado: o aparelhamento político, motor da roubalheira, vai continuar se ele for eleito? Eis a resposta de Lula:

“Acontece em qualquer democracia de país no mundo. Quando você ganha uma eleição, você faz uma composição para ganhar as eleições. Eu, por exemplo, tenho dez partidos que fazem composição comigo. Se a gente ganhar as eleições, esses partidos vão participar do governo. Faz parte da democracia. Cada pessoa que é indicada é eleita pelo Conselho dessas empresas. Você não tem como fazer a não ser assim”, disse.

Faz parte da democracia que o conjunto de partidos vencedor nas urnas divida a condução do governo nos políticas públicas. Entregar diretorias técnicas de estatais — e seus cofres bilionários — a caciques políticos é outra história. O fato de Lula não ter evoluído sobre os erros na Petrobras pode lhe custar votos.

Com informações da Veja