Ex-GSI não era só chefe de segurança, mas conselheiro de Lula, diz colunista do UOL

20 de Abril 2023 - 12h17
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O colunista do UOL Ricardo Kotscho relembrou, durante o UOL News, como era a relação entre o presidente Lula e o general Gonçalves Dias, que deixou o cargo após ser flagrado interagindo com golpistas no 8/1.

Kotscho trabalhou como assessor de imprensa no 1º mandato de Lula, de 2003 a 2006.

"Ele teve muito trabalho porque Lula não é só um líder político, é um líder popular, que gosta de estar nos braços do povo e parar para cumprimentar as pessoas. Gonçalves Dias, que era responsável por cuidar da segurança do presidente da República, começou um atrito com Lula no carro saindo da Granja do Torto para ir à Esplanada dos Ministérios porque Lula queria abrir a janela do carro para cumprimentar as pessoas que estavam lá, e Gonçalves Dias disse que não podia porque o vidro não abria".

"Havia vários desses pequenos atritos nesses primeiros dias até se entenderem porque cada um estava ali cumprindo seu papel. Me lembro de uma vez que estávamos voltando de uma viagem e tinha um monte de gente protestando na frente do Palácio do Alvorada e Gonçalves Dias foi avisado disso. Quando chegamos lá, Lula não esperou Gonçalves Dias descer do carro abrir a porta para ele, que é o normal da segurança".

Segundo Kotscho, Lula e Gonçalves Dias se davam "muito bem" e ele virou quase um conselheiro do presidente.

Ele se tornou conselheiro do presidente, porque é um cara preparado. Me lembro que, nas viagens de avião para China e Índia, ele passava o tempo todo lendo. Não consigo entender como isso foi acontecer com ele agora".

Ex-chefe do GSI orientou bolsonaristas durante ato golpista

  • O general Gonçalves Dias pediu demissão do cargo ontem (19) após imagens de câmeras de segurança do Palácio do Planalto mostrarem o general orientando bolsonaristas nos atos golpistas de 8 de janeiro. Ele foi substituído interinamente pelo número dois do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli.
  • O pedido de demissão foi apresentado ao presidente Lula após a divulgação do vídeo que mostra o general interagindo com golpistas na invasão do Planalto —a gravação foi revelada pela CNN. O general foi chamado para uma reunião com Lula, na qual foi decidida a sua saída e o nome de Cappelli como interino.
  • Cappelli também esteve no Planalto, onde Lula o convidou pessoalmente a assumir o GSI. Ele já havia exercido a função de interventor na área de segurança pública do Distrito Federal após o ataque às sedes do três Poderes.
  • O presidente vinha sendo pressionado por outros ministros a demitir Dias do comando do GSI. No entanto, Lula argumentava que o general —que foi seu ajudante de ordens nos governos anteriores— é alguém de sua confiança.
  • A permanência de Dias se tornou insustentável com a divulgação do vídeo e a exploração do episódio pela oposição —reforçando a pressão pela CPI—, segundo auxiliares de Lula.
  • Dias disse que em 8 de janeiro chegou ao Palácio do Planalto quando os bolsonaristas já haviam rompido o bloqueio militar (leia abaixo). A declaração foi dada em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo.

O que disse Gonçalves Dias

"Cheguei ao Palácio quando os manifestantes tinham rompido o bloqueio militar na altura do Ministério da Justiça. Aquela turma desceu e praticamente invadiu o Palácio. A maior parte do pessoal que invadiu o Palácio subiu pela rampa. Como o Palácio nos seus 360 graus é composto por vidro, as pessoas não entraram pela porta, elas quebraram o vidro. Esse vidro tem 12 milímetros, é extremamente vulnerável. Eu entrei no Palácio depois que foi invadido e estava retirando as pessoas do terceiro piso e do quarto piso para que houvesse a prisão no segundo piso."

A cientista política Deysi Cioccari avaliou que a narrativa dos bolsonaristas de que havia infiltrados no 8/1 ganha força.

É claro que isso vai abrir uma crise no governo e dar material para a oposição dizer que era uma narrativa construída no 8/1, de que havia infiltrados. Essas imagens dão mais embasamento para esse tipo de acusação".

"Agora, dá sim uma narrativa para os bolsonaristas dizerem que foi uma armação do governo para atingir os bolsonaristas".

Ela também afirmou que pautas importantes a serem discutidas no Congresso Nacional ficarão de lado com a CPI.

"Se abre uma crise sem precedentes. A gente estava para votar o Arcabouço Fiscal e depois a Reforma Tributária, sabemos o que uma CPI faz com o país: vai paralisar os assuntos e girar em torno disso. Mesmo que não existam muitos argumentos e tudo vire um grande show midiático, agora todas as outras pautas ficam de lado".

Com informações do UOL