A nossa desumanização

10 de Abril 2023 - 11h05
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Escrevi semana passada que quando a violência urbana aparece de maneira mais forte, o diagnóstico e as soluções encaminhadas pela esquerda retrógrada e pela direita atrabiliária são sempre as mesmas.

A esquerda a culpa é da desigualdade e do capitalismo, e as vítimas devem "sentar e esperar" e a direita atrabiliária joga conta no colo da monstruosidade humana e diz que falta poder de fogo às vítimas, problema facilmente resolvido se cada um de nós carregar uma pistola na cintura ou na bolsa.

Tirando o diagnóstico superficial e as soluções simplistas, o que se viu, após o massacre perpetrado por assassino numa creche em Blumenau foi a presença de idiotas e fanáticos politizando o fato.

Ouvi e li gente falando de Bolsonaro e de Lula como se eles fossem os responsáveis pelo crime cometido no interior de Santa Catarina.

Precisamos, como Narciso, encarar um espelho e conferir como nós somos.

Crimes estúpidos como o de Blumenau existem há tempo e seguirão existindo aqui e em todo mundo, fomentados por toda sorte de interesse. 

O oportunismo de muitos políticos, de parte da mídia e de autoridades com as recentes tragédias escolares é tão hediondo os próprios crimes e reflete o grau de desumanização que vivenciamos.

A sociedade brasileira não é pacífica. Nunca foi e a nossa história está aí para demonstrar.

Além de violenta, ainda tem memória curta e cada vez mais acostumada com a impunidade, que por aqui atende pelo nome de garantismo. 

O Massacre de Realengo, no qual outro monstro matou a tiros 12 jovens e feriu mais de 22, ocorreu em 2011. Na década de 1990, as chacinas em São Paulo eram epidemia. Para não falar do massacre do Carandiru, da selvageria das facções, das rebeliões em presídios e o sequestro, como há pouco ocorreu no Rio Grande do Norte, da liberdade civil.

Soluções mirabolantes não resolverão a situação da violência nas cidades brasileiras.

Observar o que foi feito em quem passou por situação igual ou semelhante à nossa e conseguiu superar o caos é mais de meio caminho andado.